sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

VÍRUS, VIRÓIDES, VIRUSÓIDES E PRÍONS

VÍRUS, VIRÓIDES, VIRUSÓIDES E PRÍONS

CARACTERÍSTICAS GERAIS

Vírus é uma palavra de origem latina que significa veneno. É utilizada para se referir a um grupo de agentes infecciosos microscópicos, com tamanho entre 20 e 300 nm, constituídos basicamente por ácidos nucléicos recobertos por uma capa protéica (podendo haver também, um envoltório membranoso, originário da célula alvo onde foi produzido).

A capa protéica que recobre o material genético é chamada CAPSÍDIO. Ao conjunto material genético mais capsídio, dá-se o nome NUCLEOCAPSÍDIO. No que diz respeito ao seu material genético, o vírus pode ser de RNA OU DNA (nunca ambos), de cadeia simples ou dupla (sendo que os RNAs de cadeia simples podem funcionar como mRNA ou não, e são respectivamente denominados de RNA de cadeia positiva e de cadeia negativa).

Os vírus não apresentam organização celular, ou seja, são ACELULARES. Em decorrência disso, não apresentam metabolismo próprio e são considerados sistemas moleculares replicativos NÃO VIVOS, e PARASITAS INTRACELULARES OBRIGATÓRIOS (pois dependem da maquinaria de replicação da célula que infectam para poderem ser produzidos). Existem vírus capazes de infectar organismos de todos os reinos de seres vivos, das bactérias aos animais e plantas.

Uma boa analogia para se referir aos vírus e às células que eles infectam seria compará-los com um cd-rom e um computador. O cd-rom, assim como um vírus, contém informações, um jogo, por exemplo, mas para que essas informações sejam lidas e executadas, é necessário o hardware e software celulares, neste caso, do computador, fazendo o papel de célula.

Para que haja a produção e montagem de novas partículas virais, a REPLICAÇÃO VIRAL, o vírus deve invadir uma célula alvo, processo denominado INFECÇÃO. A replicação como um todo, normalmente se dá da seguinte forma:

ADESÃO: É o processo pelo qual o vírus se liga à célula alvo que irá infectar. Na superfície da célula alvo existem proteínas chamadas RECEPTORES, que se ligam a proteínas presentes na superfície do vírus (que podem ser chamadas antireceptores ou ligantes).
PENETRAÇÃO: É a internalização da partícula viral e/ou do material genético viral pela célula alvo.
BIOSSÍNTESE: A partir dos ácidos nucléicos virais, inicia-se a síntese de mais ácidos nucléicos e proteínas virais. Os genes dos vírus também atuam no sentido de alterar todo o metabolismo e recursos celulares em direção à biossíntese dos novos vírus.
MONTAGEM: É a montagem de novas partículas virais a partir dos componentes sintetizados pela célula alvo. Pode haver a produção e montagem de centenas de novos vírus.
LIBERAÇÃO: Os vírus já montados são liberados pela célula. Pode ocorrer por exocitose ou pela lise celular.

Dá-se o nome de VÍRIONS às partículas virais capazes de infectar uma célula alvo e direcioná-la a produzir novos vírus (basicamente, é o vírus completo).

No caso de alguns vírus, como os que infectam as bactérias (BACTERIÓFAGOS), pode acontecer de o material genético viral incorporar-se ao genoma da célula alvo e permanecer em estado latente. Neste caso, ele passa a ser chamado PROVÍRUS. No caso dos bacteriófagos, seu ciclo de replicação pode seguir dois caminhos:

O CICLO LÍTICO: Neste caso, não ocorre a integração do material genético do vírus no genoma da bactéria, há a produção e montagem de novas partículas virais, que vão promover a lise da bactéria, quando da liberação dos vírus.
O CICLO LISOGÊNICO: Neste caso, o material genético do vírus é integrado ao genoma da bactéria, e lá permanece latente, até o momento em que é liberado do genoma bacteriano, e então inicia um ciclo lítico.

DOENÇAS VIRAIS

Os vírus causam doenças, pois para a célula alvo, o resultado da infecção geralmente é a morte, podendo ser causada pela própria ação viral, como no momento da fase de liberação (lise), ou o reconhecimento e destruição pelo sistema imunológico. Se um tecido ou órgão perde suas células, perde sua função. Além desse mecanismo, os vírus também podem originar cânceres, pois como vimos, são capazes de integrar seu material genético no genoma da célula alvo transformando-a em uma célula tumoral.

A transmissão de doenças virais pode se dar de diversas formas:

Através de secreções. Ex: Saliva, vírus da raiva (Lyssavirus).
Através de fluídos corporais, como o esperma e o sangue. Ex: HIV (o vírus da AIDS).
Através de gotículas em suspensão no ar. Ex: Gripe (Influenzavirus) e Hantavírus.
Através de vetores animais, como os arbovírus (arthropod borne vírus – Vírus “originados” de artrópodes). Ex: Vírus da febre amarela e da dengue (Flavivirus, vetor: Aedes aegypti).
Através do toque! Ex: Vírus da Herpes simples labial (HSV-1).

Alguns vírus têm a capacidade de infectar tanto as células humanas quanto as de outros animais. Sendo assim, pode-se adquirir doenças virais caso se tenha contato com animais contaminados. Estas doenças são chamadas de ZOONOSES VIRAIS. Como exemplos têm-se o vírus da raiva, que pode ser transmitido pela saliva de cães e morcegos infectados.

Chamam-se RESERVATÓRIOS NATURAIS, os animais (e até mesmo nossa própria espécie) portadores dos vírus, que podem ou não apresentar as doenças. Por exemplo, os cães são reservatórios naturais do vírus da raiva. De forma geral, a destruição de ambientes naturais e a expansão populacional humana, fatores causadores de desequilíbrios ecológicos acabam por promover a exposição da espécie humana a novos tipos de vírus “armazenados” em espécies consideradas como reservatórios naturais, as quais nós normalmente não tínhamos contato.

De forma geral, as melhores formas de se lidar com as doenças virais são:

Prevenção (não ser infectado pelo vírus). Como por exemplo, evitar o contato com animais considerados reservatórios naturais do vírus, ou contato sexual desprotegido com doentes de AIDS.
Vacinação (para que, caso seja infectado pelo vírus, não desenvolva a doença).
Tratamento com drogas antivirais (no caso de ter sido infectado e apresentar os sintomas da doença). Estas drogas objetivam impedir etapas específicas do ciclo de replicação dos vírus. (Não é possível tratar as viroses com o uso de antibióticos, visto que não possuem organização celular!)

HIV E AIDS

O HIV, vírus da imunodeficiência humana, é o agente causador da AIDS, síndrome da imunodeficiência adquirida, doença que aflige cerca de 433 mil indivíduos no Brasil, e aproximadamente 40 milhões de pessoas no mundo. O vírus é transmitido a partir de fluidos corporais contaminados, como o sangue e o esperma, e sua célula alvo principal são os linfócitos T CD4+ (ou T helpers, ou T auxiliares), células responsáveis por organizar a resposta imune do organismo. A imunodeficiência é resultante da destruição e/ou da parada do funcionamento adequado dessas células, então o organismo não consegue mais combater agentes que normalmente não seriam capazes de causar doenças, os chamados, neste caso, AGENTES OPORTUNISTAS.

O vírion apresenta um envelope membranoso envolvendo o capsídio, que por sua vez envolve duas moléculas de RNA de cadeia simples e duas enzimas responsáveis por processos importantes durante o ciclo de replicação viral:

TRANSCRIPTASE REVERSA: Enzima que catalisa a síntese de DNA a partir do RNA viral (sintetiza uma cadeia simples, ao mesmo tempo em que degrada o RNA viral, e depois produz uma cadeia de DNA complementar à que já havia sido sintetizada).
O fato de apresentar uma etapa de transcrição reversa em seu ciclo de replicação caracteriza o HIV como um RETROVÍRUS.
INTEGRASE: Catalisa a reação de integração do DNA produzido a partir do RNA viral no genoma da célula hospedeira.

Basicamente, o ciclo de replicação se dá da seguinte forma:

Adesão do HIV ao linfócito T CD4+. CD4 é o nome do receptor do linfócito, a proteína de superfície do HIV chama-se gp120.
Fusão do envelope viral à membrana celular.
Penetração do capsídio no citoplasma, onde é desintegrado e libera os RNA virais e as enzimas transcriptase reversa e integrase.
Síntese de DNA viral por transcrição reversa. O DNA viral e a integrase penetram no núcleo da célula, e lá o DNA viral é integrado ao genoma da célula.
Biossíntese de RNA viral via transcrição, e de proteínas virais.
Montagem dos nucleocapsídios contendo as enzimas transcriptase reversa e integrase.
Liberação das partículas virais via brotamento a partir da membrana plasmática.

Em geral, os sintomas da infecção pelo HIV são a imunodeficiência (caracterizada pelas infecções oportunistas), febre, sudorese noturna, perda de apetite, perda de peso, cansaço e diarréia.

A AIDS é o estágio mais avançado da infecção pelo HIV, em que o número de linfócitos T CD4+ cai para 200 por mm3 de sangue. A infecção é caracterizada por três fases, e pode durar vários anos:

Fase aguda assintomática: É o início. Os números de linfócitos T CD4+ no sangue estão elevados, e o número de vírus aumenta e decresce rápida e bruscamente. Decresce pois os vírus estão em estado latente.
Fase crônica assintomática: O número de linfócitos T CD4+ decresce ao longo dos anos, ao passo que o número de vírus aumenta. Esta é a fase mais longa.
Fase aguda sintomática: É a AIDS propriamente dita. O número de partículas virais no sangue está bastante elevado, enquanto o número de linfócitos T CD4+ cai para 200 por mm3 de sangue.

A AIDS é uma doença ainda sem cura, e uma das principais causas disso é o fato de que o vírus HIV apresenta muita variabilidade, pois sofre muitas mutações em seu material genético. A prevenção se dá principalmente com o uso de preservativos durante as relações sexuais, ou abster se de manter relações sexuais. Além disso, é importante testar adequadamente o sangue utilizado nas transfusões. O tratamento pode ser feito com o uso de drogas antivirais (como por exemplo, inibidores da transcriptase reversa, como o AZT – zidovudine), que no caso da AIDS, infelizmente, devido ao uso repetitivo, tendem a selecionar as formas resistentes do vírus. Sendo assim, a melhor opção é o uso de um COQUETEL DE DROGAS ANTIVIRAIS. Todavia, também se sabe que o uso dos coquetéis pode promover o surgimento de efeitos colaterais, como náuseas, inflamações e diminuição dos números de eritrócitos e leucocitos do sangue.


OUTROS PARASITAS ACELULARES


VIRÓIDES: Moléculas de RNA fita simples e circulares que infectam células de plantas. Não produzem proteínas.

VIRUSÓIDES: Praticamente iguais aos viróides, exceto pelo fato de que só se multiplicam se a célula estiver sendo infectada simultaneamente por determinados tipos de vírus.

PRÍONS: Proteinaceous Infectious Particles – Partículas protéicas infecciosas. Proteína outrora normal que sofreu uma mutação e tornou-se um príon, capaz de transformar outras proteínas, as correspondentes normais dela, em príons. O problema com os príons é que estas proteínas não sofrem digestão no aparelho digestório, e penetram intactos na circulação sangüínea. A partir daí começam a se acumular nos neurônios, transformando proteínas normais em príons e causando a morte destas células. Os príons são os responsáveis pelas doenças chamadas encefalopatias espongiformes, dentre as quais, a mais comum é a doença da vaca louca. Portanto, não coma vacas loucas.

Um comentário:

  1. Um cientista inseriu uma substância X radiativa nas proteínas do capsídio de um tipo de vírus de bactérias. Inseriu também uma substância Y radiativa no material genético desses vírus. Em seguida, colocou os vírus marcados em contato com uma suspensão bacteriana capaz de sintetizar esse tipo de vírus.
    Você acha que tanto a substância X como a Y deverão ser encontradas no interior da bactéria? Você poderia justificar essa resposta?

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